Eu-lírico do Blog

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São Carlos, SP, Brazil
Tenho um coração mais mole que sagu e muitos cachinhos que contam histórias. Do resto, sou metida, fresca e vivo no mundo da lua. Fim.

domingo, 17 de outubro de 2010

Amanhã

Ontem mesmo me vi ansiosa, pensativa... ociosa (trago essa palavra aqui para definir minha despedida ao bom e velho ócio). Mas isso é normal tratando-se de um novo emprego. E não era apenas um "novo emprego", era mais que isso, era o meu "primeiro emprego".
Foi tudo tão rápido. Explosão. Em uma sexta-feira meu irmão falou sobre a proposta. Na segunda, depois do almoço, lá estava eu. Eu desenhei mentalmente o que iria vestir. Mecanizei o percurso daqui até lá e de lá até aqui. Agendei meus novos horários e minhas pequenas folgas. Não tem erro - pensava.
É uma situação realmente embaraçosa essa coisa de primeiro emprego. Quando - quase que me arrastando - me vi porta a dentro da loja, minhas mãos pesavam mais que todo o resto do meu corpo. Essa sensação é sabidamente detestável. Odiável. E, na maioria da vezes, não sei onde devo enfiá-las. Nem lembro ao certo o que fiz. Só sei que os diálogos que travei ali foram quase que gemidos. Até então, o que despertava minha atenção eram os rostos. Unicamente eles. Aqueles rostos que me rodearam durante anos, e, que agora, ficarão comigo para sempre.
O tempo passou, e, enquanto o tempo passava, uma mistura incrível de aprendizagens, alegrias, tristezas, amizades, descobertas...
Ah, foram tantas coisas! E, enquanto o tempo passava, tudo isso tomou conta de mim.
Agora vejos as coisas fugindo do meu alcance e de uma forma que jamais pensei que aconteceria.
Eram apenas quatro horas por dia. As quatro horas mais longas do meu dia. E acabou. Nunca desejei tanto que um cliente chato e carrancudo aparecesse na minha frente com uma lista maior que eu. Mas agora, acabou. Só posso seguir em frente.
A loja vai ficar lá, em seu lugar. Mas as experiências e as pessoas que me acompanharam durante tanto tempo vêm comigo.
Amanhã não vou encarar o relógio da mesma maneira. Produtos que um dia foram insignificantes pra mim, amanhã ganharão outro valor. Minha mesinha, a minha letra esquisita nas etiquetas. Tudo vai ser diferente.
Começou com uma explosão e é assim que vai terminar.
Quando eu me ver porta a fora, sei que vou pensar. Como foi bom!
Talvez eu não saiba o que fazer com as minhas mãos, talvez amanhã elas nem pesem tanto assim. Mas carrego sempre minhas dúvidas.
Quero sentir a tarde passar bem devagar. Quero sentir a vida, mais uma vez, se despedindo de mim. E quero, com todas as minhas forças, entender esse negócio de saudade. Nem chegou e já começou a me atormentar.

sábado, 2 de outubro de 2010

Quanto ao futuro


Já faz um tempinho, li um livro da Clarice. Um verdadeiro clássico. Chama-se A Hora da Estrela. Me apaixonei pela história, e, mais do que isso, por uma personagem - Macabéa.
Agora me pergunto - tem como a gente sentir saudade do futuro? - Macebéa sentiu. E, depois desse súbito trauma pós-literatura, chego a conclusão de que sim, todos sentimos. Mas isso a gente só consegue confirmar quando chega a nossa hora de brilhar, assim como Macabéa brilhou.
Não que todos teremos um infeliz desfecho tal qual a alagoana teve. Ela nasceu para o abraço da morte, não há dúvidas. Quanto a nós, para o abraço da vida. Mas será que existe mesmo diferença? Ao menos fazemos com que seja diferente?
Macabéa viu, sorriu, se apaixonou, sonhou...sofreu...
Embora para o restante do mundo ela fosse uma simples nordestina, a qual não vivia, mas sim sobrevivia, Macabéa era mais. Ela mal tinha consciência de existir, mas, sobretudo, quem de nós tem plena consciência de ser?
Macabéa nada mais é que um auto-retrato de nossa alienada humanidade. Uma humanidade estereotipada pela mídia, na qual ser uma estrela de cinema seria o sonho máximo, e, totalmente inalcançável para um simples mortal. "Simples mortal". Pois é, acho que mereçemos mais que isso.
Nós vivemos maçantes rotinas, assim como a datilógrafa viveu. E, ao chegarmos ao mundo, deixamos que as "Rádios Relógios" da vida aponderem-se de nós. Aceitamos, assim como Macabéa que, cachorro-quente e refrigerante sejam nosso único sustento. Portanto, não me assustaria ao ouvir alguém que, em seu último sopro de vida, repetiria a frase - Quanto ao futuro.
É. Saudades do futuro. A vida é mesmo um soco no estômago.