Eu-lírico do Blog

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São Carlos, SP, Brazil
Tenho um coração mais mole que sagu e muitos cachinhos que contam histórias. Do resto, sou metida, fresca e vivo no mundo da lua. Fim.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A frustrante arte de poder escolher

Férias e tédio são, com certeza, tudo uma coisa só. Acho que isso todo mundo já sabe, mas não custa nada frisar. Na verdade, isso não tem nada ver com o que eu quero escrever, mas foi o que me trouxe aqui. Afinal, quando a gente fica descompromissado, a gente tem o dobro do tempo pra se perder no nosso próprio pensamento. E é isso o que tem acontecido comigo nessas intermináveis férias. Ainda mais quando eu resolvo dar uma "passadinha" no site de algum(a) escritor(a) legal. No caso, esta foi a vez da Clarissa Corrêa. Eu estava dando uma olhada nos seus escritos mais recentes e um de seus títulos despertou minha atenção - "A deliciosa arte de poder escolher". Logo de cara, pensei: arte essa que de deliciosa não tem nada. Tá, parece exagero mas, dependendo da ocasião, pode-se encarar desta forma mesmo.
Fala sério, tem coisa pior que ser corroído pela dúvida? Tudo bem, assim como a própria Clarissa disse, poder escolher é incrível, a gente inventa nossos próprios passos, trilha sobre nossas próprias expectativas mas, poder escolher, às vezes tem seus pontos negativos. É como se fossemos submetidos a encarar dois longos caminhos: um direcionado pra esquerda, o outro pra direita. A gente não sabe o que vai encontrar no final de cada um. Se ao menos a vida nos desse a chance de fazer um "test drive" em um deles. Mas não tem disso não.
A gente se morde de curiosidade, fica com medo, sente a maior ansiedade, mas não adianta. A vida não abre exceção pra ninguém. É preciso escolher. Quem sabe "chutar" se dá bem, pra quem não sabe também pode dar certo. Talvez, quem de fato sabe chutar, não se dê tão bem assim. Chega a ser confuso, mas é assim. E, toda essa parafernália mexe com dois velhos conhecidos nossos: a razão e o coração. Uma dúvida nasce, cresce, nos atormenta. A não ser que você tenha passado por isso, não saberá como é embaraçoso, deprimente. A gente se sente em um beco sem saída ou, melhor, com uma única saída. O abismo. São nessas horas que a gente reconhece a coragem e a força que existem em nós. E é preciso colocá-las em prática antes de se jogar. A não ser que você já tenha aprendido a voar...

Visite o blog da Clarissa: http://clarissacorrea.blogspot.com

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Querida Kitty


Eu estou lendo O Diário de Anne Frank. Sabe, me identifiquei muito com a Anne. Ela usava seu diário com o intuito de se abrir, coisa que não fazia com nenhuma de suas amigas. Quando li a passagem em que Anne dizia ser uma menina "abotoada", eu ri comigo mesma. Eu nunca soube muito bem o que é ter uma grande amiga. Embora eu tenha várias - das quais com certeza posso me orgulhar - eu nunca tive aquela amiga-pra-todas-as-horas. Sei lá o que acontece.
Como pensava Anne, também penso que o problema é comigo. Não que eu nunca tenha "desabotoado" minha alma pra uma amiga mas, normalmente, quando desabafo com alguém, o que sinto é um mero conforto momentâneo. Depois passa, eu me arrependo do que disse e me sinto sozinha de novo. Às vezes eu até prefiro ser assim, mas no resto do tempo me aperta o coração.
Desde bem novinha eu sofro com essa neurose. Tive muitas amigas durante a vida, mas poucas foram as que me marcaram. Uma delas se chamava Bruna, nos conhecemos aos sete anos. A Bruna foi minha grande companheira de classe até meus onze anos. Todo dia a gente trocava cartinhas, uma cartinha mais recheada de besteira que a outra. Mas pra nós duas não importava o que tinha escrito, o que importava eram as cartinhas. E cada uma de nós guardava sua coleção. A gente completou a quarta série, cada uma foi pra uma escola diferente. No começo, foi difícil superar a separação. Acho que foi em função disso que, mesmo uma longe da outra, continuamos a trocar cartinhas e presentes durante algum tempo. Contudo, o tempo foi passando e a gente foi se acostumando com aquilo. Uma arranjou amigas aqui e a outra ali. Não sei se ela teve mais sorte que eu mas, depois dela, tive mais decepções que amigas. E assim fui ficando seletiva.
Me apego facilmente às pessoas, mas pra mim isso nunca foi defeito. O grande problema é que ao se apegar demais, a gente acaba exigindo demais. Daí, a primeira vez que a coisa sai do eixo, a amizade vai toda pro ar. E, exigir demais, tem sido meu maior defeito.
Claro que além da Bruninha tive várias outras grandes amigas. Algumas são desde que me conheço por gente, outras fui descobrindo por aí. Tem ainda aquelas que estão sempre ali, do nosso lado, mas só com o tempo a gente reconhece. Algumas que fazem tudo valer a pena. Existem amigas que ensinam a gente a viver, que nos ajudam, que se doam por nós. Tem amiga que parece o reflexo da gente... O problema deve estar mesmo comigo. Pode ser medo de se entregar, medo ser feliz. Sei lá.
Infelizmente, Anne Frank não teve tempo suficiente pra pensar em quem, afinal, era Kitty. Talvez ela fosse tão exigente como eu, a ponto de jamais ter idealizado sua amiga imaginária. Sua amiga dos sonhos. Quanto a mim, já não escrevo mais cartinhas. Também não uso o blog com a função de amigo imaginário. Talvez postar aqui seja a única maneira de eu desabotoar minha alma para as minhas amigas. Minhas tão queridas "Kittys" que tenho espalhadas por aí.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Surto psicótico

Minha mãe diz que sou louca. Talvez eu deva mesmo ser. E, por mais que eu seja louca, a culpa não é minha. Não fui eu quem escolheu. As pessoas não saem por aí escolhendo entre a loucura ou a sanidade. Quem é louco, quem é louco sabe. Mesmo que não saiba que é louco, sabe que não foi ele quem escolheu. A gente não tem escolha. Se é preciso que alguém fique louco, esse alguém fica louco e pronto. Não há opção entre ser louco ou não. É triste, mas é assim.
Quem fica louco morre por um segundo, diz adeus, perde tudo. Mas dura só um segundo. Depois, depois o louco renasce, ganha outra vida, vê as coisas de um modo diferente. Ele passa a viver num mundo dele, só dele. Ninguém entende. Então, saem por aí dizendo: "fulano ficou louco". Mas o louco também não entende. Jura que não é louco, diz besteiras, asneiras. Se joga no chão, rola, esperneia. Tudo pra provar que é o mesmo. Tudo pra provar que é normal. Mas não é não. É que o tal um segundo passa tão rápido que nem o louco percebe. Por isso diz que não é louco. Afinal, louco que é louco não sabe que o é.
É uma pena que ninguém entenda o louco. Por conta disso, tem louco que fica tão louco, que é capaz de mentir, de machucar alguém. Inventaram até lugar pra prender louco assim. Nesse lugar, cada louco vive no seu mundo, do seu jeito . Mas, quando um louco interfere o mundo de outro, sai até briga. Os loucos se desentendem. Parece até disputa pra ver quem é menos louco. Como se a loucura fosse crime. Tudo isso porque cada louco vive de uma maneira, a sua maneira. Cada um deles acredita que a forma como vive seja a mais correta. Besteira.
Na verdade, bem lá no fundo da alma, todos nós temos um pouco de louco. Embora a maioria de nós tente provar o contrário. Sei lá por quê. Ser louco é tão normal...