Eu-lírico do Blog

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São Carlos, SP, Brazil
Tenho um coração mais mole que sagu e muitos cachinhos que contam histórias. Do resto, sou metida, fresca e vivo no mundo da lua. Fim.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Querida Kitty


Eu estou lendo O Diário de Anne Frank. Sabe, me identifiquei muito com a Anne. Ela usava seu diário com o intuito de se abrir, coisa que não fazia com nenhuma de suas amigas. Quando li a passagem em que Anne dizia ser uma menina "abotoada", eu ri comigo mesma. Eu nunca soube muito bem o que é ter uma grande amiga. Embora eu tenha várias - das quais com certeza posso me orgulhar - eu nunca tive aquela amiga-pra-todas-as-horas. Sei lá o que acontece.
Como pensava Anne, também penso que o problema é comigo. Não que eu nunca tenha "desabotoado" minha alma pra uma amiga mas, normalmente, quando desabafo com alguém, o que sinto é um mero conforto momentâneo. Depois passa, eu me arrependo do que disse e me sinto sozinha de novo. Às vezes eu até prefiro ser assim, mas no resto do tempo me aperta o coração.
Desde bem novinha eu sofro com essa neurose. Tive muitas amigas durante a vida, mas poucas foram as que me marcaram. Uma delas se chamava Bruna, nos conhecemos aos sete anos. A Bruna foi minha grande companheira de classe até meus onze anos. Todo dia a gente trocava cartinhas, uma cartinha mais recheada de besteira que a outra. Mas pra nós duas não importava o que tinha escrito, o que importava eram as cartinhas. E cada uma de nós guardava sua coleção. A gente completou a quarta série, cada uma foi pra uma escola diferente. No começo, foi difícil superar a separação. Acho que foi em função disso que, mesmo uma longe da outra, continuamos a trocar cartinhas e presentes durante algum tempo. Contudo, o tempo foi passando e a gente foi se acostumando com aquilo. Uma arranjou amigas aqui e a outra ali. Não sei se ela teve mais sorte que eu mas, depois dela, tive mais decepções que amigas. E assim fui ficando seletiva.
Me apego facilmente às pessoas, mas pra mim isso nunca foi defeito. O grande problema é que ao se apegar demais, a gente acaba exigindo demais. Daí, a primeira vez que a coisa sai do eixo, a amizade vai toda pro ar. E, exigir demais, tem sido meu maior defeito.
Claro que além da Bruninha tive várias outras grandes amigas. Algumas são desde que me conheço por gente, outras fui descobrindo por aí. Tem ainda aquelas que estão sempre ali, do nosso lado, mas só com o tempo a gente reconhece. Algumas que fazem tudo valer a pena. Existem amigas que ensinam a gente a viver, que nos ajudam, que se doam por nós. Tem amiga que parece o reflexo da gente... O problema deve estar mesmo comigo. Pode ser medo de se entregar, medo ser feliz. Sei lá.
Infelizmente, Anne Frank não teve tempo suficiente pra pensar em quem, afinal, era Kitty. Talvez ela fosse tão exigente como eu, a ponto de jamais ter idealizado sua amiga imaginária. Sua amiga dos sonhos. Quanto a mim, já não escrevo mais cartinhas. Também não uso o blog com a função de amigo imaginário. Talvez postar aqui seja a única maneira de eu desabotoar minha alma para as minhas amigas. Minhas tão queridas "Kittys" que tenho espalhadas por aí.

3 comentários:

  1. AAAAhhh Minha Liinda!!
    que bom foi ler isso! eu sinto tanto sua falta, mas como você disse a gente foi se acostumando! É bom encontrar com você por ai, e poder receber um sorriso, trocar algumas palavras... mesmo sendo poucas... Nossas cartinhas são as melhores, tem toda a inocência de duas crianças! Raquel você é aquela que eu sempre vou levar comigo, MINHA MELHOR AMIGA, a primeira! Inesquecível! Obrigada!
    Saudades! beiijos #bruna

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  2. Olá! Apareço pela primeira vez pra dar uma olhada nos seus escritos. Gostei muito e me identifiquei também com você e a sua personagem... rs Também tenho um probleminha com amigas. Desabafo sincero e interessante. Gostei mesmo do seu blog. Parabéns! Quem sabe depois não trocamos figurinhas? ((ericaeas@hotmail.com))

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  3. É lindo ler o que vc escreve e me identificar plenamente nisso. Coincidência, ou não, quando eu tinha uns 14 ou 15 anos também li o "Diário de Anne Frank";não gostei do livro na época, confesso, mas ele me inspirou a escrever um diário - que não durou muito tempo, mas isso é outra história. O mais interessante de tudo é que, além dessa coincid~encia citada, compartilho o fato, ou recentimento, de não ter tido uma bbf (best friend forever). Como vc, tenho e tive grandes amigas,mas, como vc, sou exigente e não consigo me apegar, não da maneira tradicional. Não sei explicar. Sempre falta algo e sempre sinto que a "culpa" é minha. Hoje já não encano mais com isso, aprendi a aceitar, faz parte de mim. Assim como creio que também faça parte de vc. (ai to quase fazendo um post aqui.. melhor parar... até pq meu namorado me enche o saco para jogar video-game com ele hauahauahu) Continue escrevendo.. adoro ler =)

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