Eu-lírico do Blog

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São Carlos, SP, Brazil
Tenho um coração mais mole que sagu e muitos cachinhos que contam histórias. Do resto, sou metida, fresca e vivo no mundo da lua. Fim.

sábado, 2 de julho de 2011

Um ano reduzido à cócegas e lágrimas

De repente, quando Clara sentiu cócegas no olhar, tomou pela mão aquela antiga foto. E antes que a primeira lágrima pudesse despencar, já não entendia, afinal, o que fazia ali. Há um ano, pensava... E de novo começavam as tais cócegas no olhar. Tudo havia mudado, ela sabia, mas não entendia. O que era aquela dor? De onde vinha? Por que vinha? Clara nada mais sabia. Ou nunca soube. E as cócegas insistiam em continuar.
Clara se lembrava de um dia, de um sorriso, de uma promessa, então, as cócegas se tornavam um incêndio em seu olhar. Eu pensei que... Buscava ela inutilmente uma explicação para o quanto havia se enganado. Essas coisas são tão normais, pensava ela. Mas isso é realmente normal? A mentira é algo comum? Clara ficava encafifada com toda aquela situação e eram nesses momentos que as cócegas pareciam ter ido embora. E tinham ido. 
Então, quando Clara se lembrou daquele rosto, daquele abraço, lá estavam elas novamente, as malditas cócegas no olhar. Eu posso fugir, eu posso esquecer, dizia Clara para si. Mas podia? Ela podia fugir de tudo, fisicamente podia. Só não sabia o que fazer com as lembranças, com aquele sorriso, aquele rosto, aquele abraço, aquela promessa... Assim, de repente, as cócegas faziam com que Clara sentisse suas lágrimas pulando, uma a uma, pra longe dos seus olhos. Eram tantas, que já nem sabia pra onde iam. De certo se perderiam em algum lugar, secariam, evaporariam, sei lá, pensava Clara. 
Em antítese, Clara abriu um sorriso. Um largo e sincero sorriso. As cócegas cessaram. As lágrimas se secaram nos próprios olhinhos miúdos de Clara. Essas lágrimas são mágicas, pensou ela consigo. São tristeza, são alegria, é tanta coisa em uma só. Mas ninguém parece ligar. Quando essas cócegas, malditas cócegas, infestam nosso olhar, queremos que as lágrimas venham, queremos que elas apaguem esse incêndio. Queremos que elas afoguem nossa dor. Elas vêm, fazem o que tem que fazer, chegam a nos confortar. Mas significam tão pouco pra nós. Assim como um sorriso, um abraço, uma promessa pode significar tão pouco pra uns. Podem significar tão pouco que, aquele sorriso sincero, aquele abraço sincero, aquela promessa sincera que fez alguém mais feliz, talvez fossem apenas gestos sem sentido. Talvez fossem apenas mentira. E as cócegas voltaram e afogaram o pensamento de Clara. 
Espero que um dia as cócegas venham, assim, acompanhadas por um sorriso, um abraço, uma promessa... Tão sinceros, que as palavras jamais poderiam descrever tamanha felicidade que causariam. Espero precisar das lágrimas, pensava.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Angústia ou Um telefonema ou Três Tombos ou Livro e Chá

Já se passava da meia noite. Suzana não tinha em vista o telefone. Tudo o que lhe restava era um livro recheado de histórias tristes, uma xícara de chá e aquela angústia que tilintava em seu peito. Sabe-se lá que angústia. Angústia de que? Angústia de onde? 
Suzana não queria mais saber daquele livro. Nem do chá. Nem da angústia. Então, Suzana tentava se concentrar na tevê, embora não enxergasse nada ali. Eram apenas imagens aleatórias, inúteis. Imagens quase que transparentes tentando esconder a tal angústia. Mas não adiantava. A angústia era tudo o que Suzana via. E que angústia. E o telefone? Era preciso apenas um telefonema. Um alô. Uma palavra. Um sinal. A verdade é que nada daquilo era preciso. Mas era o que pensava Suzana enquanto procurava o telefone. E que procura.
A tevê chama a atenção de Suzana. “Modelo tomba na passarela”. Modelos tombam na passarela? Suzana precisa terminar seu chá. Seu livro. E a angústia? Como terminar com ela? Qual o problema em tombar? Um tombo. Dois tombos. Três. O telefone. Acho que não devo ligar. Mas é só uma ligação. E pronto. É só uma angustiazinha. E vai virar uma angustiazona. É melhor não ligar. Vou esquecer. É só tomar um chá. Ler um livro. Um, dois, três tombos. Quem liga? Todos tombam na vida. Não é só modelo não. É isso. A vida é uma passarela. 
E assim prossegue Suzana, cruzando a interminável noite. Já não lhe importava o chá. Nem o livro. Nem o telefone. Só lhe importava a angústia. É só um tombo. Afinal. Quem liga?

sábado, 14 de maio de 2011

A Gata Borralheira do século XXI

Era uma vez a história que não precisava necessariamente ter um final feliz. Embora tenhamos uma donzela que, segundo os estereótipos femininos, espera seu príncipe encantado montado em um cavalo branco, aqui nem tudo se resolve com um passe de mágica.
Nessa história, Cinderela sofre desilusões amorosas, neuroses e até TPM. Uma TPM daquelas, que nem fada madrinha pode resolver. A única solução plausível seria nossa mocinha se entupir de chocolate ou espantar o mau humor após meio litro de vodka barata. Melhor ainda se ela estiver com cólica, depois de um porre e algumas gotinhas de Buscopan, a dor e o mau humor vão direto para o espaço.
Quando a vida da nossa Cinderela está quase no eixo – pois anda sempre pendendo de um lado para o outro – sem ajuda de fada madrinha nem nada, nossa heroína vai em busca do mais lindo vestido. E, claro, andando pelo shopping, acaba encontrando um lindo par de sapatinhos de cristal que se encaixam perfeitamente em seus pés. Depois de aproveitar uma liquidação ou outra, Cinderela está pronta para ir ao encontro do seu príncipe encantado. E é a partir daí, que a história muda de cenário.
Ao final do período de provas de Cinderela e, finalmente, quando ela também recebe férias de sua patroa – ou madrasta -, ela tem bastante tempo para suspirar e se ocupar com as lembranças de um príncipe que nem cavalo tem. A Gata Borralheira do século XXI terá sorte se for convidada para o grande baile e puder dançar com o homem dos seus sonhos.
Mas não vamos ser pessimistas. Entre tantas decepções e fracassos, a mocinha da história é convida para o baile. E, sem abóbora ou ratos encantados, ela consegue chegar ao seu destino. Com o mais belo look da festa e a mais caprichada maquiagem, é claro que nossa Cinderela moderna desperta a atenção do seu “príncipe encantado”.
Eles dançam.
Eles se olham.
Eles suspiram.
Eles se beijam.
Eles se abraçam.
Ele faz as mais sinceras promessas de amor.
Ela? Se apaixona.
Agora, quer saber a maior semelhança entre a personagem principal dessa história e a Gata Borralheira que conhecemos ainda na infância? É simples.
Para ambas, a festa sempre tem hora pra acabar.

terça-feira, 3 de maio de 2011

O melhor de Tati

A história completa de Ritinha
Tati Bernardi

Ritinha fingiu a vida inteira mas nunca deixou de procurar a verdade. Sempre uma tosse de angústia na boca do peito. Sempre um motorzinho acelerado enjoado lá pro meio de algo que fica dentro. O olho ardia. A língua travava de vontade de mudar todo o discurso pronto e dizer apenas a verdade. Mas qual era a verdade? Então seguia fingindo. A vida inteira. Estudou um monte de coisa que se embaralhava na sua frente, mas fingia acreditar que aquilo a levaria para algum lugar. Um lugar com novos amigos e novos amores, talvez. Talvez essa fosse a verdade que purificaria tanta coisa sem sentido. Mas também não era isso porque, com esses amigos e amores, Ritinha seguia fingindo. De fingir estudar passou em tudo que fingiu se importar. De fingir curtir as festas e os amigos e aquilo tudo, Ritinha vivia em álbuns felizes e acabava feliz. De fingir amar, acabou chorando e doendo e escrevendo tantas coisas bonitas. Ritinha seguia fingindo o tempo todo. Às vezes, com medo de morrer soterrada por tanto teatro, Ritinha segurava firme no fundo dos olhos de alguém e dizia: a verdade é que, a verdade é que. E a pessoa, caso fosse assim como Ritinha, uma pessoa especial (porque quem procura essa verdade sempre é) só dizia: eu sei, eu sei. E era isso. Um momento especial, de verdade, sem a bola de pêlo presa na goela. Sem a tosse de angústia, tentando soltar algo pro ar entrar. Mas que algo? Mas que tosse? Então Ritinha ia ao psiquiatra e dizia não entender todas essas coisas como nuvens e casamentos e rodas fedorentas de caminhões bafando quente e infernal e abajures e cartões fidelidade e apostilas e tudo isso que acaba acontecendo porque acontece com todo mundo. Mas pra quem? Por quê? Qual é a verdade? Todos caminhando, todos com horários, todos de volta, cansados, o cérebro já bem gasto, agora podemos dormir, ufa, podemos dormir, pra quê? Pra amanhã mais e mais. E Ritinha ia. Como na hora do rush do metrô. Empurrada pela multidão sem verdade pra dentro de algo que leva pra algo. Pra onde? Eles precisam pagar as contas, eles precisam pagar o plano de saúde, diria sua mãe. Tá, e daí? Ter um problema sério nos ocupa de não ter o problema real. O problema real é que não dá pra calar a cabeça procurando a verdade. Que verdade? Quem inventou as nuvens? Porque as rodas de caminhões soltando fumaças quentes lembram tanto o inferno? E quem disse que a roda solta alguma coisa? Onde está a saída daqui? O tempo todo essa pergunta: onde está a saída daqui? Qual o caminho mais rápido para a minha cama, o silêncio, o escuro. Ritinha abraça as pernas, como criança, e se diz baixinho: não dá pra saber a verdade, não dá pra parar a cabeça, nada parece realmente o que é, hoje eu não disse o que realmente queria, aquelas pessoas não sentem aquilo que demonstram, eu pouco me importo com 70% dos preenchimentos do meu dia, mas é preciso chegar até amanhã. É preciso chegar. Ritinha se formou, trabalhou, namorou, viajou, casou, teve filhos, escolheu vestidos, escolheu pisos, escolheu tacos, escolheu flores, escolheu travesseiros, escolheu máquinas de lavar, escolheu o nome do neto, escolheu fazer a cirurgia, escolheu o sapato baixo, escolheu ver a novela ao invés do filme, escolheu dormir até mais tarde no dia que a empregada chegava mais cedo. Sem saber a verdade, Ritinha escolheu viver. No último segundo, até porque prometi que essa era a história completa de Ritinha, Ritinha descobriu algo que nunca mais poderá contar a ninguém. Só o que sabemos é que, em sua última sugestão do que seria a verdade, ela sorriu como sorrimos para um bebê quando ele se levanta bem compenetrado depois de desabar.

domingo, 20 de março de 2011

É assim que vou escrevendo...

Às vezes, quando eu fico triste, me vem uma vontade louca de ser artista. Pego o violão pelo braço, faço e me desfaço dos acordes - alguns, que nem nome tem - e começo a transformar a tristeza em canção. Mesmo que seja uma canção "esboçada" e de melodia desafinada. Sei que é inútil, mas esse é um exercício de quem quer se desvendar, de quem tem algo pra encontrar. Chaga uma hora que paro e penso: mas-o-que-é-que-eu-tô-fazendo? e quem disse que eu sei responder?
É por isso que às vezes eu saio por aí escrevendo. É como se as palavras me dissessem: Vem, eu lhe digo quem é você. Mas dizem?
Infelizmente, quando eu terminar esse texto, mal terei a certeza do porquê o escrevi. Minhas dúvidas continuarão vivas dentro de mim e, de certo modo, me sentirei um pouco feliz. Querendo ou não, são elas que impulsionam minha vida, meu ser.
Quem sabe um novo texto? Quem sabe...

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

238 dias

Um punhado de momentos, algumas lembranças, restos de uma história qualquer. Fantasmas? Pode ser. Não que seja o nome certo pra isso. Mas como essas lembranças causam calo dentro da gente, por enquanto serve. É difícl definir a saudade, o pouco que ficou do que se foi. A gente não explica, apenas sente. Por fora a gente quer mostrar que é forte e que pode tudo. Quando, na verdade, não pode nada. A gente chega a pensar que pode afogar os soluços num travesseiro ou numa garrafa de bebida barata. Amenizar a dor com aquela música heavy metal e dar risada do destino com os amigos não faz da dor uma piada. Tentar esquecer e pular fora não existe. A gente só se engana se pensar que pode ser assim. Daí sofre mais, até o dobro. O jeito é ir devagar, sentindo as alfinetadas de leve. É doloroso, mas não se engane, todos passarão por isso. A não ser que... a não ser que você guarde aí uma caverna. Me desculpe, mas a minha eu chamo de peito. Aí dá nisso mesmo.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A frustrante arte de poder escolher

Férias e tédio são, com certeza, tudo uma coisa só. Acho que isso todo mundo já sabe, mas não custa nada frisar. Na verdade, isso não tem nada ver com o que eu quero escrever, mas foi o que me trouxe aqui. Afinal, quando a gente fica descompromissado, a gente tem o dobro do tempo pra se perder no nosso próprio pensamento. E é isso o que tem acontecido comigo nessas intermináveis férias. Ainda mais quando eu resolvo dar uma "passadinha" no site de algum(a) escritor(a) legal. No caso, esta foi a vez da Clarissa Corrêa. Eu estava dando uma olhada nos seus escritos mais recentes e um de seus títulos despertou minha atenção - "A deliciosa arte de poder escolher". Logo de cara, pensei: arte essa que de deliciosa não tem nada. Tá, parece exagero mas, dependendo da ocasião, pode-se encarar desta forma mesmo.
Fala sério, tem coisa pior que ser corroído pela dúvida? Tudo bem, assim como a própria Clarissa disse, poder escolher é incrível, a gente inventa nossos próprios passos, trilha sobre nossas próprias expectativas mas, poder escolher, às vezes tem seus pontos negativos. É como se fossemos submetidos a encarar dois longos caminhos: um direcionado pra esquerda, o outro pra direita. A gente não sabe o que vai encontrar no final de cada um. Se ao menos a vida nos desse a chance de fazer um "test drive" em um deles. Mas não tem disso não.
A gente se morde de curiosidade, fica com medo, sente a maior ansiedade, mas não adianta. A vida não abre exceção pra ninguém. É preciso escolher. Quem sabe "chutar" se dá bem, pra quem não sabe também pode dar certo. Talvez, quem de fato sabe chutar, não se dê tão bem assim. Chega a ser confuso, mas é assim. E, toda essa parafernália mexe com dois velhos conhecidos nossos: a razão e o coração. Uma dúvida nasce, cresce, nos atormenta. A não ser que você tenha passado por isso, não saberá como é embaraçoso, deprimente. A gente se sente em um beco sem saída ou, melhor, com uma única saída. O abismo. São nessas horas que a gente reconhece a coragem e a força que existem em nós. E é preciso colocá-las em prática antes de se jogar. A não ser que você já tenha aprendido a voar...

Visite o blog da Clarissa: http://clarissacorrea.blogspot.com

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Querida Kitty


Eu estou lendo O Diário de Anne Frank. Sabe, me identifiquei muito com a Anne. Ela usava seu diário com o intuito de se abrir, coisa que não fazia com nenhuma de suas amigas. Quando li a passagem em que Anne dizia ser uma menina "abotoada", eu ri comigo mesma. Eu nunca soube muito bem o que é ter uma grande amiga. Embora eu tenha várias - das quais com certeza posso me orgulhar - eu nunca tive aquela amiga-pra-todas-as-horas. Sei lá o que acontece.
Como pensava Anne, também penso que o problema é comigo. Não que eu nunca tenha "desabotoado" minha alma pra uma amiga mas, normalmente, quando desabafo com alguém, o que sinto é um mero conforto momentâneo. Depois passa, eu me arrependo do que disse e me sinto sozinha de novo. Às vezes eu até prefiro ser assim, mas no resto do tempo me aperta o coração.
Desde bem novinha eu sofro com essa neurose. Tive muitas amigas durante a vida, mas poucas foram as que me marcaram. Uma delas se chamava Bruna, nos conhecemos aos sete anos. A Bruna foi minha grande companheira de classe até meus onze anos. Todo dia a gente trocava cartinhas, uma cartinha mais recheada de besteira que a outra. Mas pra nós duas não importava o que tinha escrito, o que importava eram as cartinhas. E cada uma de nós guardava sua coleção. A gente completou a quarta série, cada uma foi pra uma escola diferente. No começo, foi difícil superar a separação. Acho que foi em função disso que, mesmo uma longe da outra, continuamos a trocar cartinhas e presentes durante algum tempo. Contudo, o tempo foi passando e a gente foi se acostumando com aquilo. Uma arranjou amigas aqui e a outra ali. Não sei se ela teve mais sorte que eu mas, depois dela, tive mais decepções que amigas. E assim fui ficando seletiva.
Me apego facilmente às pessoas, mas pra mim isso nunca foi defeito. O grande problema é que ao se apegar demais, a gente acaba exigindo demais. Daí, a primeira vez que a coisa sai do eixo, a amizade vai toda pro ar. E, exigir demais, tem sido meu maior defeito.
Claro que além da Bruninha tive várias outras grandes amigas. Algumas são desde que me conheço por gente, outras fui descobrindo por aí. Tem ainda aquelas que estão sempre ali, do nosso lado, mas só com o tempo a gente reconhece. Algumas que fazem tudo valer a pena. Existem amigas que ensinam a gente a viver, que nos ajudam, que se doam por nós. Tem amiga que parece o reflexo da gente... O problema deve estar mesmo comigo. Pode ser medo de se entregar, medo ser feliz. Sei lá.
Infelizmente, Anne Frank não teve tempo suficiente pra pensar em quem, afinal, era Kitty. Talvez ela fosse tão exigente como eu, a ponto de jamais ter idealizado sua amiga imaginária. Sua amiga dos sonhos. Quanto a mim, já não escrevo mais cartinhas. Também não uso o blog com a função de amigo imaginário. Talvez postar aqui seja a única maneira de eu desabotoar minha alma para as minhas amigas. Minhas tão queridas "Kittys" que tenho espalhadas por aí.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Surto psicótico

Minha mãe diz que sou louca. Talvez eu deva mesmo ser. E, por mais que eu seja louca, a culpa não é minha. Não fui eu quem escolheu. As pessoas não saem por aí escolhendo entre a loucura ou a sanidade. Quem é louco, quem é louco sabe. Mesmo que não saiba que é louco, sabe que não foi ele quem escolheu. A gente não tem escolha. Se é preciso que alguém fique louco, esse alguém fica louco e pronto. Não há opção entre ser louco ou não. É triste, mas é assim.
Quem fica louco morre por um segundo, diz adeus, perde tudo. Mas dura só um segundo. Depois, depois o louco renasce, ganha outra vida, vê as coisas de um modo diferente. Ele passa a viver num mundo dele, só dele. Ninguém entende. Então, saem por aí dizendo: "fulano ficou louco". Mas o louco também não entende. Jura que não é louco, diz besteiras, asneiras. Se joga no chão, rola, esperneia. Tudo pra provar que é o mesmo. Tudo pra provar que é normal. Mas não é não. É que o tal um segundo passa tão rápido que nem o louco percebe. Por isso diz que não é louco. Afinal, louco que é louco não sabe que o é.
É uma pena que ninguém entenda o louco. Por conta disso, tem louco que fica tão louco, que é capaz de mentir, de machucar alguém. Inventaram até lugar pra prender louco assim. Nesse lugar, cada louco vive no seu mundo, do seu jeito . Mas, quando um louco interfere o mundo de outro, sai até briga. Os loucos se desentendem. Parece até disputa pra ver quem é menos louco. Como se a loucura fosse crime. Tudo isso porque cada louco vive de uma maneira, a sua maneira. Cada um deles acredita que a forma como vive seja a mais correta. Besteira.
Na verdade, bem lá no fundo da alma, todos nós temos um pouco de louco. Embora a maioria de nós tente provar o contrário. Sei lá por quê. Ser louco é tão normal...