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Tenho um coração mais mole que sagu e muitos cachinhos que contam histórias. Do resto, sou metida, fresca e vivo no mundo da lua. Fim.

sábado, 2 de outubro de 2010

Quanto ao futuro


Já faz um tempinho, li um livro da Clarice. Um verdadeiro clássico. Chama-se A Hora da Estrela. Me apaixonei pela história, e, mais do que isso, por uma personagem - Macabéa.
Agora me pergunto - tem como a gente sentir saudade do futuro? - Macebéa sentiu. E, depois desse súbito trauma pós-literatura, chego a conclusão de que sim, todos sentimos. Mas isso a gente só consegue confirmar quando chega a nossa hora de brilhar, assim como Macabéa brilhou.
Não que todos teremos um infeliz desfecho tal qual a alagoana teve. Ela nasceu para o abraço da morte, não há dúvidas. Quanto a nós, para o abraço da vida. Mas será que existe mesmo diferença? Ao menos fazemos com que seja diferente?
Macabéa viu, sorriu, se apaixonou, sonhou...sofreu...
Embora para o restante do mundo ela fosse uma simples nordestina, a qual não vivia, mas sim sobrevivia, Macabéa era mais. Ela mal tinha consciência de existir, mas, sobretudo, quem de nós tem plena consciência de ser?
Macabéa nada mais é que um auto-retrato de nossa alienada humanidade. Uma humanidade estereotipada pela mídia, na qual ser uma estrela de cinema seria o sonho máximo, e, totalmente inalcançável para um simples mortal. "Simples mortal". Pois é, acho que mereçemos mais que isso.
Nós vivemos maçantes rotinas, assim como a datilógrafa viveu. E, ao chegarmos ao mundo, deixamos que as "Rádios Relógios" da vida aponderem-se de nós. Aceitamos, assim como Macabéa que, cachorro-quente e refrigerante sejam nosso único sustento. Portanto, não me assustaria ao ouvir alguém que, em seu último sopro de vida, repetiria a frase - Quanto ao futuro.
É. Saudades do futuro. A vida é mesmo um soco no estômago.

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